sábado, 3 de fevereiro de 2007

Lá era tão bom... Então porque não está lá?

Lamentar. Parece que é só isso que algumas pessoas sabem fazer.
Em outros tempos eu até ofereceria ombro e ouvidos para tanta choradeira, só que hoje já não é bem assim.
Dias atrás, conversando com uma amiga, percebi que havia mudado muito depois dos trinta. Sabe, acho que deixei de ser romântica (tradução: tola e ingênua) e passei a perceber que muitas das queixas não têm o menor fundamento.

Foi pensando nisso que me lembrei de um tipo de lamentação muito comum, que se ouve pelos corredores das empresas por aí. Basta juntar uma rodinha no café e logo alguém começa a falar de CLT, direitos pra cá, benefícios pra lá, até que alguém engata um discurso do tipo comparativo, ressaltando aos colegas as diferenças entre as empresas onde trabalhou. Para não ficar por baixo, todo mundo tem uma história interessante pra contar. Será que na sua empresa também é assim?

Vejamos o João, disse que quando era gerente de vendas em uma multinacional podia fazer de tudo e mais um pouco, e que, além disso, ganhava muito bem. Sempre que fala assim ajeita o cinto e estufa o peito. “Eu era praticamente um Deus. Lá era tão bom!” – Dizia João.

Já a Margarida era da área de inteligência (falava com ênfase), mas a função que ocupava e o que exatamente esta área produzia nunca ficavam claros em seus discursos. “Trabalhar na Inteligência. Gente quer coisa melhor?! Lá era tão bom!” – Dizia ela. Além disso, tinha até 14º salário, coisa que ela repetia pelo menos duas vezes por dia.

Com o Reginaldo não tem pra ninguém. E ele é simplesmente “O Cara”. Tudo o que você comprar ou fizer tenha a certeza de que ele já fez e comprou e em dobro.
Só para você ter uma idéia: Se você viajou para o Chile e achou o máximo, bem, ele já foi pra América Latina inteira e achou razoável. Nas empresas em que trabalhou sempre foi muito necessário, segundo ele o pessoal o procurava fora de hora e ele resolvia tudo. Claro que podia trabalhar com muita liberdade. Um detalhe, ele também era muito amigo do dono.
Sempre dizia: “Aquilo que era empresa. Lá era tão bom!”

O Paulo é do tipo festeiro, mas anda amuadinho, pois sente muita falta dos eventos que eram realizados em seu último emprego. “O pessoal de lá é que sabe o que é diversão. Lá era tão bom!” – Frase constantemente dita por Paulo.

Agora melhor emprego tinha a Jacque. Ela faltava, tirava licença e quando queria podia até trabalhar em casa.
Já imaginou? Certa vez, quando resolveu fazer uma lipoaspiração mentiu ao chefe dizendo que estava muito doente, não sabia explicar que doença tinha exatamente (falava chorando) e ficou quase dois meses afastada. Sorrindo, ela dizia “meu chefe era um banana que nem percebeu que minha barriga sumiu. Lá era tão bom!”

O resumo da fábula em questão nos faz refletir sobre como existem pessoas mal agradecidas e, sobretudo, presas ao passado.
Muitas vezes o individuo até se encontra numa posição melhor, mas faz questão de alimentar um saudosismo improdutivo e sem o menor sentido. Pessoas prósperas são aquelas que sabem agradecer e se despedir do passado com alegria. Aprendi, há muitos anos, que antes de lamentarmos sobre alguma situação que estivermos vivendo devemos nos observar por alguns instantes para assim compreender quão sortudos somos.
Ah! Outra coisa, quando ouvir algo do tipo “Lá era tão bom!” Pergunte, mas pergunte mesmo: então porque você não mais está lá?


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