segunda-feira, 15 de janeiro de 2007

Quantos anos você tem?

Enquanto as outras crianças corriam dos velhos, achando-os chatos e mal cheirosos, eu sempre fazia o oposto. Na verdade sempre gostei da velhice.
Não sei se foi pela criação ou se é algo da minha personalidade, mas desde que me conheço por gente sempre apreciei ficar horas conversando com pessoas mais velhas.

Nunca vi chatice nem senti cheiro ruim, mas aprendi sobre política, economia, sobre a sociedade, e principalmente sobre o futuro.
É claro que a maioria das coisas que ouvia deles era senso comum, mas percebia que os discursos tinham um único objetivo, o de me alertar sobre como viver neste mundo.

Nos dias de inverno, quanto batia aquele solzinho gostoso logo pela manhã, lá estavam os velhinhos do bairro debaixo do abacateiro. Minha mãe temia que um abacate causasse um óbito em frente ao seu portão, e insistia para que entrassem para um café.

Durante muitos anos (debaixo do abacateiro e sem óbitos) ouvi várias histórias. Falavam sobre Getúlio Vargas, comentavam a viagem do homem à lua, reclamavam de seus filhos e do período de ditadura que o país enfrentara. Apesar da idade avançada seus corpos eram esbeltos, pois na juventude as coisas não eram fáceis, o trabalho era duro, o transporte era escasso e tinham-se que percorrer longas distâncias a pé.

Nossa! Que saudades. Mudei de bairro, e ao longo dos anos sempre recebia a notícia da morte de um deles. Depois do enterro (a que eu nunca fui) ia visitar os vivos, como forma de consolo. Até que um dia todos se foram.

Podemos aprender muito com quem está disposto a ensinar. Se tivermos interesse em aprender algo, nada mais adequado do que beber na fonte da experiência de pessoas que viveram mais do que a gente.

Uma coisa que aprendi é nunca jogar ninguém fora.

Hoje percebo que não existe velho chato nem mal cheiroso, o que há são pessoas mal-humoradas que, mesmo jovens, aperfeiçoam a técnica e o cheiro desta sua condição. Bem, isso é conseqüência.


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Um comentário:

  1. Prezada
    Débora Martins:

    Párabenizo-lhe pelo artigo publicado. Identifiquei-me e muito com ele. Tenho hoje 20 anos (feitos agora em 03/02) e comumente de chamam de maduro demais, e não raramente de ter pensamento de velho.

    Mas me alegro com isso, pois tenho espírito jovem mas sensato. E isto devo ao gosto que sempre tive em compartilhar (ou melhor, somente ouvir) os ensinamentos que os mais experientes me passados. E muitas perguntas de minha parte, sempre para aprender e aprender.

    Felicidades! Ótimo depoimento seu.

    Lucas Vogt Schommer

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